Durante a VII Semana de História da UFRR, tivemos um produtivo debate sobre o ensino de História hoje em Roraima. Aqui segue o texto produzido coletivamente pelo GTD (Grupo de Trabalho e Discussão) a respeito desse tema:
RELATÓRIO FINAL GTD ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO
Ao considerarmos as discussões propostas no grupo, identificamos a falta de parâmetros comuns e a consequente necessidade de reflexão coletiva sobre o ensino de História, em pontos que consideramos fundamentais para uma educação significativa e compromissada com a formação de cidadãos críticos e que compreendam o mundo em que vivem.
Um dos primeiros pontos discutidos trata da ideia equivocada de uma lista de conteúdos padronizada para todas as escolas, na pretensão de se evitar supostas “lacunas” nos conhecimentos históricos dos alunos (em uma evidente confusão entre conhecimento histórico e conteúdos). De forma unânime, considerou-se tal proposta inviável e indesejável, pois uma padronização não leva em consideração a realidade dos alunos concretos, desconsidera a necessidade e o direito à autonomia dos professores em planejar e selecionar conteúdos. Repudiamos toda tentativa de obstar essa autonomia, seja na forma de sistemas apostilados, imposição de listas de conteúdos ou outra medida autoritária. Somente aos Parâmetros Curriculares Nacionais e ao Projeto Pedagógico da escola, construído coletivamente, é que o planejamento do professor deve se subordinar.
Quando é desrespeitado o direito do professor de elaborar seu planejamento e selecionar conteúdos, de acordo com as necessidades dos alunos concretos, cabe ao professor reivindicar esse direito e exercê-lo no relacionamento com as coordenações pedagógicas, pais e alunos, respaldado pelo conhecimento específico da área, controle e domínio dos mecanismos didático-pedagógicos e adequação do plano de trabalho aos objetivos de ensino.
Juntamente com essa autonomia é imprescindível que o professor reconheça e assuma o seu papel de mediador e organizador do processo de construção do conhecimento dos alunos, na pretensão de que o aluno compreenda que é sujeito da História e do conhecimento histórico.
Com isso, assumimos que podemos tornar o ensino de História significativo para os alunos, a partir do momento em que eles se compreendem como sujeitos no processo histórico. O ensino de história pode garantir isso se o professor assumir o papel de mediador utilizando metodologias significativas para que o aluno compreenda sua inserção nesse processo.
No momento em que o professor adota essa atitude, acreditamos que uma avaliação significativa e verdadeira deve ser processual e considerar os objetivos propostos no seu planejamento.
Uma reflexão quanto aos problemas que infelizmente persistem no ensino de História em Roraima considerou questões voltadas ao tempo disponível para as aulas de História nas escolas, a falta de recursos e a necessidade de formação continuada.
O tempo disponível para o ensino de história (duas aulas semanais) é insuficiente. Uma vez que a organização do currículo privilegia algumas disciplinas em detrimento de outras, o professor de história tem de assumir mais turmas que um professor de matemática, por exemplo, e assim, disporá de menos tempo para os trabalhos de correção, leitura e planejamento necessários ao ensino de qualidade.
Entre os problemas apontados foi freqüente a citação da falta de recursos tanto nas escolas de rede pública municipal, estadual, como nas universidades que possuem o curso de História. Especificamente identificamos como necessidades mais urgentes em termos de recursos:
A) Acesso à internet como recurso para planejamento e execução do trabalho docente;
B) Projetor de imagens;
C) Mapas;
D) Acervo bibliográfico;
Na questão da formação verificamos que os professores necessitam de formação continuada para refletir sobre sua prática e adquirir conhecimentos técnicos sobre novas metodologias, emprego de determinados recursos tecnológicos para o ensino, etc. Verificamos isso com base tanto nas discussões sobre necessidades e dificuldades apresentadas pelos professores quanto pela leitura das observações e entrevistas que foram realizadas em salas de aula das escolas de rede pública e particular da cidade de Boa Vista no ano de 2010 por acadêmicos do curso de História da Universidade Federal de Roraima.
Sobre essas dificuldades, identificamos uma grande deficiência dos professores no que diz respeito à auto-avaliação: como não há um controle técnico-externo e como a atividade docente se dá de forma bastante solitária, os profissionais apresentaram muita incoerência em seus depoimentos. Por exemplo, um professor afirmava que os alunos sequer abriam o livro, porém elogiou o trabalho apresentado por eles.
Vale lembrar também há muitos profissionais formados em outras áreas lecionam história na rede pública estadual, o que certamente não contribui para a qualidade no ensino de História.
Ainda levando em conta essas observações e entrevistas, consideramos a ideia de que a melhoria da formação inicial é fundamental para o entendimento do docente quanto à finalidade do ensino de História e muitos professores não conseguiram, nas entrevistas, definir essa finalidade. Vimos que há uma dicotomia na relação entre a grade curricular de licenciatura em História e o trabalho exercido pelo professor no ensino básico. Nesse ponto, propomos que haja uma maior consideração nas disciplinas de Práticas e Metodologias, onde possamos trabalhar tanto a teoria e a prática educacional de forma significativa.
Outro aspecto importante é a relação da universidade com a sociedade, ou seja, a socialização do conhecimento produzido na comunidade acadêmica para a comunidade civil. É necessário que este conhecimento chegue à comunidade em geral.
As reflexões feitas pelo grupo propõem ainda que haja, de forma efetiva, o fortalecimento e união da classe em sindicatos e associações visando à luta contra as arbitrariedades impostas aos docentes tanto pelo governo quanto por algumas gestões escolares.
Reivindicamos melhorias na estrutura física das escolas, disponibilização de recursos metodológicos e a inclusão curricular da História Regional nas escolas, bem como a criação de bibliografias didáticas que tratem dessa temática.